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Uma carta à menarca

 

Uma carta à menarca

Hoje esse texto é uma carta à menarca de minha filha, e de todas as meninas que seguirão sangrando pela vida. 

Morre entre as pernas a primeira infância. Nasce entre as pernas uma gota de sangue como um rito de passagem que vem para contar que um novo mundo interno e externo se abre diante de sua vulva: a ciclicidade. 

Hoje acordei com minha filha sussurrando em meus ouvidos: “Mãe, eu menstruei”. 

Eu dei um pulo da cama, mas mantendo a calma e serenidade. Afinal, meu coração acelerou, apesar disto tudo fazer parte de um processo natural da vida. 

Mas, tantas coisas passaram pela minha cabeça de mãe. Um flash de toda sua infância se passou em 2 segundos sob minha tela mental,  mais alguns flashes se passaram sobre tudo o que poderei compartilhar com ela sobre ser cíclica, ser mulher e humana em uma sociedade contemporânea que sutilmente castra nossa maior potência: a de pertencer a nós mesmas, de ser dona de nossos fluxos e processos, alinhando-as à natureza externa que nos rege também em nossa natureza interna. 

A abracei, perguntei como ela se sentia e a resposta foi: “Me sinto diferente”. 

E sim, a vivência de sangrar pelas pernas nos atravessa. Lembrei que nos maiores ritos de vida eu sangrei entre as pernas, no meu parto e na minha menarca. 

Sigo hoje durante o dia e enquanto escrevo este texto mergulhando nas minhas mais profundas entranhas e pensando o quanto ritualizar nosso sangue é uma passagem daquilo que as palavras não alcançam para definir. 

Que a estranheza do “se sentir diferente” possa ser nomeado, não em inteligência racional, apenas, mas em processos vividos de corpo e alma. Que compreender a menarca possa vir de um lugar de passagem, integrando quem se era para quem se é, e quem se torna, a cada novo ciclo, a cada nova lua, a cada nova estação.

Aceitar nossos processos naturais, aceitar nosso sangue, aceitar os processos de vida, morte e vida, e fazê-los deles ritos de passagens é revolucionário. 

Como será constituída uma sociedade a partir de meninas e pessoas que possuem útero, aceitarem e reconhecerem em todos os seus poros a transformação de sangrarem? De crescer? De ser e deixar ser? De estarem intimamente conectadas a natureza e de serem parte tão intrínseca dela? 

Que hoje o sangue que escorre das pernas de minha filha seja acolhido, em sua maior integralidade. Que seu sangue seja honrado, visto e reconhecido. Que ele seja ritualizado, abençoado e sagrado. 

Eu te vejo minha filha, te vejo diferente. Acolho a sua ciclicidade e caminharei de mãos dadas rumo a direção de se amar e se conhecer, como ser natural da vida.

Autoria do texto: Samanta Giannico @gestar_parir_amar

Fotografia: Marina Wang – em um registro chamado “A floresta que me habita”

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