Salve e Bença. Que bom que você está aqui para esta leitura e encontro. Muito prazer!
Nesse texto senti de trazer para a cena da terra que cura, algo que pode servir para tudo, até nos momentos mais íntimos, e que tem sido raro e caro; e que logo ganhará “status” de meta de vida, como antes já foi a liberdade, o amor, a riqueza, o conhecimento.
O TAL DO LIMITE.
Limite talvez seja uma palavra que vai ter um dos maiores ressignificados dos últimos tempos, pois ele até então soou como algo que não era bem-vindo e contrário a tudo que é legal. Amar, gastar, falar, ter, sentir, sem limites, vida loka, paz e amor…são tantos clichês possíveis…. mas será mesmo que limite é negativo?
Uma criança que vê o limite de frente esperneia, mas depois ela sente uma segurança tremenda, pois sabe que ali teve um adulto cuidando dela, caso contrário ela teria que precocemente fazer escolhas assumindo consequências e de fato correndo riscos.
Onde começa eu e onde começa você? Em que ponto nós nos tocamos, encontramos, batemos? Celebramos? Fato que entre as pessoas e coisas existe algo, que pode ser imaginário ou material, que nos delimita. Saber disso e onde está isso nos permite saber até onde podemos avançar e qual momento de parar, caso contrário haverá choque, conflito, embate e até machucados. E não é isso que estamos vendo hoje em dia?
Cancelamentos, lutas legitimas, debates necessários, reuniões que poderiam ser e-mail, home office, contrato de namoro, on-line, privacidade, rede social, caos… será que tudo estaria assim se antes tivéssemos dado bola para o limite? Essa ventania toda até que é bem lucrativa né, afinal não tem almoço grátis, e se você não sabe o limite e sofre por conta disso, eu posso ser sua guia, basta pagar a mensalidade para desbloquear todos os níveis de abundância (contém ironia e material para ser cancelada, e está tudo bem).
Então vamos a ele,
LIMITE
substantivo masculino
- 1. linha que determina uma extensão espacial ou que separa duas extensões. (ex: “os l. de um terreno”)
- 2. momento, espaço de tempo que determina uma duração ou que separa duas durações. (ex: “no l. da Idade Média e dos tempos modernos”)
Em outras palavras, meu direito começa onde o seu termina, faça para os outros o que gostaria que fizessem para você.
Qual nosso lugar de fala? Onde começamos a nos apropriar ao invés de homenagear, até que horas posso te ligar, qual momento de falar e de calar, qual minha luta, qual minha conquista, qual meu prazer, qual meu limite. Qualquer frase de efeito trará o dilema do limite. Está se apresentando o nosso mal do século. Sem limite não há saúde, respeito e nem mesmo amor-próprio. Se eu branca quero trançar meus cabelos por achar bonito, mesmo sabendo a importância histórica das tranças nagô, estaria extrapolando limites e me apropriando de algo? Ou isso só seria equivocado se ao usar esse símbolo eu desrespeitasse me comportando duvidosamente? A estampa de roupa contendo um desenho que retrata a violência, que foi a escravização, cruzou algum limite? E se a estampa ao invés da escravização, exaltasse a beleza da pele preta?
Tudo é relativo lá onde está essa entidade chamada limite, mas é objetivo e urgente o reconhecimento deste lugar, para que haja respeito, harmonia e para que possamos conviver nas nossas diferenças. Para avançarmos para uma convivência multigênero, multitarefas, multi possibilidades, precisamos estabelecer limites, para que todos tenham lugar, para que ninguém precise ser voz de ninguém, para que tudo caiba sem choque, acomodado, adaptado, senão o limite dará lugar à tirania, pois o fato de uma luta ser legitima não vai deslegitimar a outra. Eu não tenho direito de obrigar outra pessoa a ver e ser como eu, eu posso é respeitar o limite entre a minha vontade e a outra, e onde estas linhas se encontram é um lugar de afeto, de troca, de reconhecimento e amor. Faz o que tu queres, há de ser o todo da lei, lei sob vontade, onde todo homem e toda mulher, e todo ser, são uma estrela.
A terra que cura nos traz uma possibilidade, nos convida a explorar nossos limites, sabermos até onde e quando queremos ir, mas isso nos dá o direito de exigir que ela se curve à nossa vontade ou podemos respeitar limites e convivermos com este imaginário criativo e fértil? Vamos viver tudo que há! Te vejo no limite! Beijos.
Autoria do texto: Juliana Cerdá @julianacerdamendes
