Ela tinha 13 anos, estava sentada na sala brincando quando sentiu uma dor forte na barriga a fez levantar e então pode sentir pela primeira vez seu sangue. Gritou pela irmã mais velha com receio da reação de sua mãe. A irmã, apesar de nunca ter compartilhado de sua experiência, agora mostrava profunda sabedoria no assunto – levou a menina pro banheiro se limpar, disse que agora isso aconteceria todo mês e a entregou um pacote de absorvente descartável.
– Rimos com lágrimas refletindo que esses absorventes, usados “apenas” há 40 anos, ainda permanecem em algum lugar do nosso planeta.
Ela continua, relembrando que naquela mesma noite, sua mãe não se pronunciara, mas seu pai a ofereceu pela primeira vez uma taça de vinho para um brinde, junto a uma aula de anatomia aonde explicara fisicamente as mudanças que seu corpo agora passaria – as teorias que um livro e um homem são capazes de alcançar.
Acho o gesto bonito mas algo em mim entra em luto por aquela mãe que se quer conseguiu mostrar qualquer tipo de reação. Penso aonde estavam as amigas, as irmãs, a celebração, o pé na terra.
Ela continua dizendo que os próximos 30 anos de encontros mensais com seu sangue foram de dor, desconforto e angústia. Foi apenas com a chegada da menopausa, que essa mulher pode sentir em sua alma o poder em sangrar. Viveu um luto por sua jornada e pediu com todas as forças que pudesse então sangrar novamente. Pediu com tanta força que veio, e essa mulher, agora já vivendo seu arquétipo de anciã, pela última vez pode sangrar. E sangrou por 30 dias. 30 dias de memórias – corporal e afetiva, aonde ela pôde finalmente se entregar e compreender que sangrar todo mês vai muito além de teoria.
Os absorventes usados pela menina provavelmente ainda estão intactos, mas essa mulher, como todas nós, se transformou mensalmente- gostando disso ou não.
Que possamos cada vez mais viver uma história de acolhimento e amorosidade com nosso sangue, nosso corpo e nosso lugar no mundo.
Autoria do texto: Cora – @coraphotography_
