Salve e Bença. Que bom que você está aqui para esta leitura e encontro. Muito prazer!
Músicas me inspiram a reflexões, fato. Você também sente isso?
Um amigo me sugeriu escutar, Medo, dos Titãs. Letra e batida intensas, e eles são primorosos em expressar emoções e situações… pois que na letra tá escrito: “Precisa perder o medo do sexo
Precisa perder o medo da morte
Precisa perder o medo da música
O que se vê não se via
O que se crê não se cria
Precisa perder o medo da musa
Precisa perder o medo da ciência
Precisa perder o medo da perda
Da consciência”.
Do que você tem medo? Medo de sentir medo nos leva ao pânico. O medo de certa forma nos mantém vivas, nos deixa alerta, prudentes e até criativas.
E como tudo nessa vida imensa de experiências, tudo tem uma dose. Sem medo não sobreviveríamos e com ele em excesso só sobrevivemos.
É dito, e eu já comprovei no meu viver, que quando olhamos na direção do que nos dá medo é para lá que vamos. Medo de perder um objeto e de repente, lá se foi ele. Medo de ser traída que leva a ciúmes que leva a descobrir algo que leva ao desgaste que acaba levando a fatídica traição.
E o que dizer das mentiras por causa do medo. Daí se mente para desviar do que se tem medo, depois outra mentira para fazer a manutenção da mentira e aí claro que no fim, o que causou medo de iniciou vem voando e brilhando para ensinar a lição.
E se o medo deixar de ser esse vilão todo, o bicho papão e passar a ser um aliado? Será que é possível? Para mim é sim, e ele virou meu amigo em situações onde não tinha outra opção a não ser encarar. E olha que eu sou muito boa em criar desculpas lindas para mim mesma e me convencer de cada coisa… que parece enredo de novela. E tantas vezes o medo tava ali me alertando ou me mostrando caminhos para me reinventar.
O medo é muito parceiro da intuição. Eles devem ter altos papos e devem também dar muitas risadas.
O maior medo de hoje em dia parece ser o de ser quem se é. Tem tanta influência, algoritmo, capitalismo selvagem, padronizações, polarizações, que ser quem se é, indivíduo, da um medo danado. De não ser aceita, de ser grosseira, de ser inadequada, de usar pronome errado, de ofender alguém, de usar uma roupa estranha… então é mais fácil (só na nossa cabeça medrosa) ser parecido com todo mundo, até mesmo ser parecida com quem é diferente, sim porque isso também é um padrão zão, para dar aquele quentinho de pertencimento. Daí vemos com os mesmos filtros, mesmas ideias, temos nosso grupo de apoio… e aí na hora do vamos ver, descobre-se que só a gente é capaz de sentir e ver e viver daquele jeito único.
Hey medo, bora ser amigos? Me ajuda a ser quem eu sou, sem revolta sem raiva, sem autopunição? Me guiando nesse mundão, me dando as dicas de caminho, me convidando para esse papo com a intuição?
Sabe uma vez que eu lembro de ter conversado com o medo? Quando usando uma calcinha menstrual eu senti o cheiro do sangue, quando eu coloquei a água com sangue num pote de vidro para depois levar na mata. Quando eu pensei no que será que iam pensar se vissem aquele pote de vidro? Tanta coisa se passa. Que medo é esse que o mundo sente do sangue menstrual? Aí tem muitas chaves de portas incríveis.
Lembro também de como era bom ter amigos meninos que lidavam bem com a menstruação e como era bom não ter medo de estar menstruada perto deles.
E só agora começamos a ver de verdade, no Brasil, campanhas de distribuição de absorventes para quem menstrua. Que bom que estamos coletivamente encarando esse medo do sangue.
Como se diz por aí… Vai com medo mesmo, mas vai!
Tudo que tiver dando para ser!
Beijo
Juliana Cerdá Mendes
imagem do pinterest Marie Alexander