VIVA A SUA MENSTRUAÇÃO COM ACOLHIMENTO E CONFORTO!

Por todas as menarcas que passei

 

Por todas as menarcas que passei

Dessa vez eu não estava no meu quarto rosa com cheiro do amaciante que minha mãe usava. Estava eu molhada de leite, cercada de brinquedos que não eram meus e com olheiras que um dia também não foram minhas.

Navegando entre mundos desconhecidos e também tão familiares, notei em meu filho gestos de estranheza com meu leite. A irritação dele em não entender o que estava acontecendo, também era a minha e percorremos aquele dia num mix de desentendimento e frustração.

A energia estava diferente, mas eu culpava a lua cheia – mesma lua que nos reencontramos, eu e ele, 15 luas atrás.

Ao me levantar da cama no dia seguinte, sinto escorrer ainda lá dentro e então mundo afora, um pedaço do que vivi. Como no trailer de um filme me vejo com um resultado positivo de gravidez, as dores na lombar, o desenrolar do cordão umbilical ainda em seu pescoço branco de vernix, e eu ali em pé parada a escorrer o sangue mais vivo que já havia visto.

Como cachoeira após a tempestade, meu corpo se despedia de um ciclo inteiro; uma vida. Sinto alivio, alegria, luto, dor – tudo na mesma intensidade.

Sinto a morte.

Era como se agora o parto ficasse na página ao lado e uma estranha sensação de distanciamento do meu filho – não éramos um, agora seríamos dois.

Eu precisava voltar a ser para mim.

“Que sorte hoje ser domingo”, penso.

Anuncio a familia minha indisponibilidade, reabro a gaveta com meus absorventes de pano, deito na grama do quintal e viajo pra dentro de meu útero, agora vazio de meu filho mas borbulhante em novos projetos.

Tive lembranças vívidas do dia do parto – dos dois que vivi. O cheiro que eu exalava era parecido com aquele cheiro que eles chegavam pros meus braços e essa memória afetiva, a cada vez que eu a sentia no ar, ela subia de dentro do meu útero, direto pra minha alma e com sorte, algumas dessas também passavam pela minha mente e eu podia reviver tudo aquilo que vivemos juntos. Me despedi desse ciclo com muito acolhimento, me despedi da velha e abri espaço para a mulher que agora chegava.

Mas a segunda-feira sempre chega, e minha tenda foi invadida por dois seres que traziam consigo latas de tinta e que rapidamente transformaram minha tenda até então vermelha, num completo caos de cores.

Respiro profundamente, tiro a armadura, abraço o momento e me acolho;

desse sangue vieram esses dois seres que, por hora, precisam de mim mais do que a mim mesma.

 

Autoria do texto: Cora – @coraphotography_

 

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